Saia do armário! #comingoutday 🌈

Hoje, 11 de Outubro, é o #comingoutday ou "Dia de sair do armário" (insira aqui uma figurinha lgbt+). 
Pra pessoas heterossexuais talvez não faça sentido um dia para assumir ao mundo (mesmo que seja o mundo da sua casa) quem você ama. Para pessoas lgbt+, amar pode estar muito relacionado à abuso, morte, desrespeito, agressão, desqualificação...



Sinto que sempre tô em dívida sobre meus posicionamentos com a comunidade lgbt+. Não que eu deva por obrigação me colocar ou que eu precise me dizer lgbt pra validar alguma coisa, mas porque me posiciono sobre corpo, política, maternidade e falo menos do que acho que devia sobre ser pansexual, mesmo já tendo relatado tantas coisas e me exposto de tantas formas. Mas não ocupa menos da minha vida nem é menos relevante na minha construção como pessoa. 
Já sofri casos de homofobia e bifobia e todas essas palhaçadas inúmeras vezes, assim como fetichização e vulgarização de mim, como pessoa;  mas me sinto muito privilegiada por tudo o que não sofri e por todo apoio e amor que tenho. O mundo é muito cruel e eu tenho muita sorte de ser uma pessoa feliz dentro das minhas definições sexuais. 
Não foi natural me assumir amante de pessoas e não de gêneros. Eu frequentava igreja evangélica e ainda ouço que é fase e vai passar mas tudo é perdoável numa experimentação jovem; eu já fui barrada de situação x por não ser "lésbica o suficiente". Pois é, eu não sou lésbica mesmo, o que, demorei aaanooos pra entender, não "desqualifica" minha "não heterossexualidade" - sou da época que a sigla era GLS, veja bem. E sei também que não preciso provar isso. Eu já tive vários medos, ainda tenho muitos e já pude compartilhar momentos de traumas com outras mulheres que, mesmo discretamente, já anunciaram à mim o quanto já tinham apanhado do mundo. Todos os passos numa relação lgbt precisa ser cauteloso, nunca sabemos por quantos tombos o outre já passou. 
Estar num mundo em que rosa é pra meninas e azul é pra meninos, assim como batom, boneca, saia, educação e carinho são coisas de menina e brutalidade, indiferença, ambição, carro, carrinho e sexualidade são coisas de menino - estar nesse mundo que mata, agride e instiga suicídios e depressões exige que sejamos seres praticantes. Os discretos que me desculpem, é preciso não manter o silêncio em tempos de cólera. Mesmo sabendo que esse grito meu atinge uma maioria que entende tudo o que tô falando. 

Esses dias assisti um filme na Netflix e não vou me estender nele, se chama 'The boys in the band' cujo roteiro original foi escrito para uma peça teatral em 1968 e retrata uma festa de aniversário em que todos os convidados (ou 9/10) são gays. Nos Estados Unidos, em 1968 era crime ser gay. Fazer a peça acontecer foi não só uma afronta como também um risco e todos os atores envolvidos punham sua carreira em jogo quando participavam dessa atividade. Assim como todos que assistiam. Assim como todos que existiam. No dia 30 de setembro o filme homônimo foi ao ar e uma das características é o fato de que todos os atores são, de fato, gays. Na vida real mesmo, sem roteiro. É um filme feito POR CAUSA disso e não APESAR disso. Quem vive ou viveu anos se escondendo dentro de casa sabe o quanto essa condição é importante. 

Bento já me viu namorar mulheres e sabe que não é amiga da mamãe, é namorada. Bento conhece meus e minhas amigues e consegue lidar naturalmente com "qualquer romance". Bento entende o que é ser trans e sabe que "nem todo homem tem piru nem toda mulher tem buceta". 



                 


Uns dias atrás eu terminei de ler "A resistência dos vaga-lumes", editora Nós, enquanto meu filho brincava de montar quebra cabeça. Naquela tarde havíamos ido até a pracinha perto de casa pra andar de bicicleta e outras crianças chegaram perto pra brincar perguntando qual era o nome da menina. Bento ficou, como várias vezes, irritado porque "ele não é uma menina"

O livro trás esse sentimento de potencia impotente que somos nós. São textos, ficção, futuro, presente, passado, infância, amores, desejos, dores... "Sair do armário" é uma atitude de coragem. É a primeira prova de fogo, é desejar não decepcionar a família, é desejar nunca perder o suporte, é precisar começar do zero... São incontáveis casos de pessoas lgbt+ abandonadas e humilhadas, diariamente. A nossa expectativa de vida é baixa.

A bem verdade é que não importa o quanto eu prepare Bento e abra pra ele meu mundo, a nossa bolha sempre estoura e ser quem se é sempre exige muita coragem. Ser orgânico e cotidiano não nos impede de sofrer ataques e, por que não, faze-los. No meio de tantas palavras de protesto pra se ter uma vida equivalente a de qualquer pessoa heterossexual [branca] eu sei que só posso oferecer ao Bento acolhimento pra que ele decida quem será. A dor de saber que nem todos receberam e receberão isso, como mãe, é latente. Por isso meu papel é e sempre foi assumir a mulher que sou, racialmente, politicamente & sexualmente, gritando sempre que possível ou não, meu desejo de que todos possamos viver felizes, afinal, é isso que desejo fortemente ao meu filho. E aos filhes dos outres.
E ponto.



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