Setembro Amarelo & Sessão de Terapia, temp 04

 Aproveitando a resenha da semana passada onde não trouxe o clássico do audiovisual que são longas ou curtas, hoje trago uma série; mais especificamente a quarta temporada da série “Sessão de Terapia”, até então dirigida por Selton Mello e agora também estrelada por ele, dando vida a Caio Barone, um analista recém-traumatizado pela morte da esposa e filha.

Conheci essa temporada de “Sessão de Terapia” logo no começo da quarentena e todas as redes de diálogos pareciam ir de encontro comigo; eu me senti em todos os personagens. Desde a celebridade exausta à senhora infeliz passando pelo homem opressor, um profissional adoecido e uma adolescente discordante – eu estava ali em cinco matérias, desde antes de estar isolada, mas pela primeira vez, eu teria que lidar com os tantos papéis que me atribuí sem distrações ou escapes.

E se ver representada em plena histeria, não como figurante de equilíbrio ou intérprete de plenitude, é libertador. E trago essa assinalação do audiovisual em Setembro como um pedido para que olhemos para nossas necessidades enfermas e cuidemos delas invés de ignora-las e varrer pra debaixo do tapete. Pedir ajuda é tão natural quanto respirar mesmo que várias pessoas morram sem se dar conta disso. 

Poderia propor a obra simplesmente pelo Selton Mello que é impecável em tudo o que se envolve (alô, Selton, tô aqui, se envolve comigo), mas indico principalmente pela potência de desmistificação do que é terapia e dessa relação de transferência que fazemos sempre em qualquer contato que nos torna vulnerável. A bem verdade é que ninguém quer ser vulnerável ou se sentir fragilizado, aberto, disposto numa época em que força é sinônimo de muro e máscaras. Sempre temos tempo de pensar antes de responder, apagar mensagens, reescrever textos, mudar o humor… A gente não pensa mais antes de falar, a gente maquia.

Nenhum sentimento nosso é esgotado, estamos num momento superficial em que até as geleiras precisam derreter na expectativa de que a gente mergulhe um pouco, drasticamente tênue com a passagem para o afogar. 

Desde 2005, a série foi reproduzida em vários lugares do mundo, mas é originalmente de Israel, do roteirista Hagai Levo. Quinze anos depois, a forma de contar as histórias é tão singular e singela que propõe ao espectador cinco conflitos, mas o que prende mesmo é o “sexto sentido” – o conflito pessoal e intransferível da gente.

A estrutura é simples, seguindo uma semana, como uma conversa entre analista e analisando de segunda a quinta-feira, cada paciente em seu dia e horário específicos desenrolando a própria trama, e sexta-feira o analista, Caio, muda de lugar e torna-se paciente de Sofia (Morena Baccarin).


A série pode ser assistida de duas formas: seguindo a semana e intercalando os personagens ou dando sequencia ao mesmo tratamento e acompanhando uma história por vez. Recomendo que sigam a proposta semanal, escoltando a evolução dos pacientes que é decorrente da evolução da angústia de Caio que, por sua vez, só é possível desenvolver através dos analisandos. Ou seja, reforça o óbvio: somos influenciados e influenciáveis; “quando falo dos meus pacientes eu tô falando de mim.” (T4EP10

Todas as temporadas anteriores estão disponíveis na GloboPlay e a quarta temporada também disponível no Youtube, na íntegra. Façam esse trajeto de se indagar o que está sendo proposto nos episódios e depois me contem se bateu ai também aquela necessidade de fazer análise. Durante a pandemia várias ONGs, instituições e profissionais se dispuseram a atender online e pelo telefone gratuitamente ou em valores acessíveis, procurem saber, nem só de remediações se faz uma solução, a prevenção é o melhor caminho, somos todos indivíduos traumatizados e potenciais traumatizadores – estejamos atentos e fortes.

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